07 abril 2011

Papel do brinquedo na escola

Brincar é uma experiência fundamental para qualquer idade, especialmente para as crianças com idade entre 3 e 6 anos, que brincam para viver: interagem com o real, descobrem o mundo que as cerca, se organizam, se socializam. Desta formam, o brincar e o brinquedo já não são mais, na escola, aquelas "atividades utilizadas pelo professor para recrear as crianças, como uma atividade em si mesma. (Bendetson, 1993 mimeo).
Quanto mais rica for a experiência pela criança, maior será o material disponível e acessível a sua imaginação, daí a necessidade do professor de ampliar, cada vez mais, as vivências da criança com o ambiente físico, com brinquedos, brincadeira e com outras crianças.
A ludicidade deve permear o espaço escolar a fim de transformá-lo " Num espaço de descobertas, de imaginação, de criatividade, enfim, num lugar onde as crianças sintam prazer pelo ato de conhecer".

A influência da brincadeira
na socialização da criança

Quanto mais nova a criança, mais individual e egocêntrica é a sua brincadeira. "A essa centração da criança nela mesma, Piaget chama de egocêntrica. Não significando com isso uma hipertrofia da consciência do eu, mas simplesmente uma incapacidade momentânea da criança de descentrar-se, isto é, colocar-se em outro ponto de vista que não o próprio". (Freire, J.B, 1992).
À medida em que a criança interage com os objetos e com os outros, vai construindo relações e conhecimentos a respeito do mundo em que vive, porém, nesta fase, esse conhecimento ainda não é suficiente para que a criança estabeleça relações de grupo.
Essa autocentração é característica nas crianças quando ingressam nas classes de Educação Infantil. Aos poucos, a escola e a família, em conjunto, devem favorecer uma ação de liberdade para essa criança e, desta forma, o processo de socialização se dará gradativamente, através das relações que ela irá estabelecer com seus colegas na escola.
Para que isto ocorra, a criança não deve sentir-se bloqueada, nem tampouco oprimida em seus sentimentos e desejos. Suas diferenças e experiências individuais devem, principalmente na escola, ter um espaço relevante sendo respeitadas nas relações com o adulto e com as outras crianças.
Brincando em grupo as crianças envolvem-se em uma situação imaginária onde cada um poderá exercer papeis diversos aos de sua realidade, além do que, estarão necessariamente submetidas a regras de comportamento e atitude.
A brincadeira e o jogo receberam atenção, também, dos teóricos da vertentes Histórica-Cultural. Segundo Leontiev (1988), é através da atividade lúdica que a criança desenvolve a habilidade de subordinar-se a uma regra. Dominar as regras significa dominar o próprio comportamento, aprendendo a controlá-lo e a subordiná-lo a um propósito definido. (1988,p.139).
O auto-controle interno sobre o conflito, entre seu próprio desejo e a regra da brincadeira, é uma aquisição básica para o nível da ação real da criança e de sua moralidade futura. (Multieducação, 1994).


A construção de espaço e tempo
através das relações corporais...

À medida em que a criança vai percebendo e conhecendo o mundo a partir das relações que estabelece com os outros e os objetos, percebe, conforme ressalta João Batista Freire*, que possui "um corpo capaz de pegar, rolar, rir, chorar, bater sentar, deitar, andar e que é capaz de conhecer as coisas que pega, sobre as quais rola, pelas quais chora e ri, e assim por adiante".
Podemos perceber que existe uma "compreensão corporal" conforme a criança movimenta seu corpo adaptando-se à situações cotidianas, vivendo e revivendo seu espaço e tempo a partir das relações de seu corpo com o mundo e das representações que faz destas relações.
Quando a criança age com os objetos e com outras pessoas é importante que se leve em conta o elo que existe entre seu corpo e o mundo, intermediados pelo espaço e tempo vividos em cada situação real. É importante que a criança se perceba em um determinado espaço e que sinta as relações com o seu tempo biológico e as variações de tempo no ambiente: manhã/tarde/noite; presente/passado/futuro; rápido/lentamente; agora/mais tarde/daqui a pouco; etc.
Desta forma a criança vai construindo, com o próprio corpo conceitos como os de simultaneidade e duração, por exemplo; adquirindo noções de quantidade, conjunto, agrupamento e muitas outras atividades, mentais como o desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático, necessário à resolução de problemas, inclusive os apresentados pela leitura e escrita.
A partir de vivências com seu próprio corpo, a criança vai produzindo e modificando diferentes conceitos, incorporando-os às estruturas do pensamento.



*João Batista Freire é Mestre em Educação Física pela USP; Doutorando em Psicologia Escolar na USP.

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