04 novembro 2012

PROFESSORES APAIXONADOS

Professores e professoras apaixonadas acordam cedo e dormem tarde, movidos pela ideia fixa de que podem mover o mundo. Apaixonados, esquecem a hora do almoço e do jantar: estão preocupados com as múltiplas fomes que, de múltiplas formas, debilitam as inteligências.
As professoras apaixonadas descobriram que há homens no magistério igualmente apaixonados pela arte de ensinar, que é a arte de dar contexto a todos os textos.
Não há pretextos que justifiquem, para os professores apaixonados, um grau a menos de paixão, e não vai nisso nem um pouco de romantismo barato. Apaixonar-se sai caro!
Os professores apaixonados, com ou sem carro, buzinam o silêncio comodista, dão carona para os alunos que moram mais longe do conhecimento, saem cantando o pneu da alegria. Se estão apaixonados, e estão, fazem da sala de aula um espaço de cânticos, de ênfases, de sínteses que demonstram, pela via do contraste, o absurdo que é viver sem paixão, ensinar sem paixão.
Dá pena, dá compaixão ver o professor desapaixonado, sonhando acordado com a aposentadoria, contando nos dedos os dias que faltam para as suas férias, catando no calendário os próximos feriados.
Os professores apaixonados muito bem sabem das dificuldades, do desrespeito, das injustiças, até mesmo dos horrores que há na profissão. Mas o professor apaixonado não deixa de professar, e seu protesto é continuar amando apaixonadamente.
Continuar amando é não perder a fé, palavra pequena que não se dilui no café ralo, não foge pelo ralo, não se apaga como um traço de giz no quadro. Ter fé impede que o medo esmague o amor, que as alienações antigas e novas substituam a lúcida esperança.
Dar aula não é contar piada, mas quem dá aula sem humor não está com nada, ensinar é uma forma de oração. Não essa oração chacoalhar de palavras sem sentido, com voz melosa ou ríspida. Mera oração subordinada, e mais nada.
Os professores apaixonados querem tudo. Querem multiplicar o tempo, somar esforços, dividir os problemas para solucioná-los. Querem analisar a química da realidade. Querem traçar o mapa de inusitados tesouros.
Os olhos dos professores apaixonados brilham quando, no meio de uma explicação, percebem o sorriso do aluno que entendeu algo que ele mesmo, professor, não esperava explicar.
A paixão é inexplicável, bem sei. Mas é também indisfarçável.

Gabriel Perissé
O Guia dos Curiosos - Língua Portuguesa 

Bom Samaritano 
A expressão "bom samaritano" veio de uma passagem da Bíblia, em Lucas 10:25-37, em que um homem, que se diz muito entendido nas leis de Deus, pergunta a Jesus o que é preciso fazer para entrar no Reino dos Céus. Então, Jesus conta uma parábola sobre um homem que seguia de Jerusalém para Jericó, quando caiu nas mãos de ladrões. Os bandidos roubaram suas roupas e bateram tanto no coitado que ele quase morreu. Um padre passava pela estrada e, ao ver o homem, desviou do caminho. Um levita, que vinha pelo mesmo lugar, mudou de direção. Até que apareceu um samaritano, que ficou com pena do homem. Ele fez curativos em suas feridas com óleo e vinho. Depois, colocou o pobre em seu burrico, levou-o para uma pousada e lá cuidou dele. Para Jesus, quem ajuda seu vizinho teria passaporte garantido para o céu. Naquela época, os samaritanos não eram vistos com bons olhos pelos judeus, pois formavam um grupo dissidente da comunidade judaica, que incluía rituais pagãos em sua prática religiosa. Na verdade, Jesus queria mostrar que deveríamos considerar todos como nossos "vizinhos" e ajudá-los, deixando as diferenças de lado.

Boi na linha
A primeira estrada de ferro do Brasil foi construída pelo Barão de Mauá e ia de Raiz da Serra à Petrópolis. O projeto não previa a colocação de cercas ao redor dos trilhos, por isso é comum que rebanhos de bois cruzassem ou até deitassem nas linhas. Isso obrigava os ferroviários a pararem a máquina para expulsar os animais do caminho. Por isso surgiu a expressão "tem boi na linha".

Chupim
Essa palavra nomeia àquelas pessoas que costumam se aproveitar das outras. Na verdade, chupim é um pássaro preto. Como não constrói ninho, ele usa de um artifício para que outros animais (geralmente o tico-tico) choquem seus ovos. O bichinho os deposita no ninho do colega alado, que faz todo o serviço sem perceber.

Conto-do-Vigário
Uma imagem de Nossa Senhora dos Passos doada pelos espanhóis à cidade de Ouro Preto (MG) originou uma disputa entre os vigários de duas igrejas, a de Nossa Senhora do Pilar e a de Nossa Senhora da Conceição. Para resolver o impasse, o vigário de Pilar sugeriu que a imagem fosse colocada em cima de um burro no meio do caminho entre as duas igrejas. O rumo que o animal tomasse decidiria com quem ficaria a imagem. Quando foi solto, o burro imediatamente se dirigiu à igreja de Pilar. Mais tarde, soube-se que ele pertencia ao vigário de lá.

Rasgar a seda
A expressão, que significa fazer um elogio exagerado, é originária de uma das comédias do dramaturgo Luís Carlos Martins Pena (1815-1848), o fundador do teatro de costumes no Brasil. Em uma cena, um vendedor de tecidos tenta cortejar uma moça bonita e, como pretexto, oferece alguns cortes de fazenda a ela, "apenas pelo prazer de ser humilde escravo de uma pessoa tão bela". A garota entende o recado e responde: "Não rasgue a seda, que esfiapa-se".

Frango a passarinho
De acordo com José Carlos Machado, gerente do restaurante São Judas Tadeu, em São Bernardo do Campo, que serve o prato desde 1949, o frango é chamado assim porque é cortado em pedaços menores, 22 para ser mais exato. "Os pedaços pequenos acabam por assemelhar o frango a um passarinho, daí o nome", afirma Machado. O frango a alho e óleo, por exemplo, é cortado apenas nas juntas e rende 14 pedaços.

Pagar o mico
De acordo com o dicionário Houaiss, a expressão, que significa "passar por um vexame", é originária do jogo do mico. Cada jogador usa as cartas que retira do monte para formar casais de animais e quem fica com a carta do mico preto, que não tem par, perde a partida. O perdedor tem que sofrer algum tipo de castigo, como passar por uma situação embaraçosa, e "paga o mico".

Chato de galocha
Infelizmente, os chatos continuam a existir, ao contrário do acessório que deu origem a essa expressão. A galocha era um tipo de calçado de borracha colocado por cima dos sapatos para reforçá-los e protegê-los da chuva e da lama. "Por isso, há uma hipótese de que a expressão tenha vindo da habilidade de reforçar o calçado. Ou seja, o ’chato de galocha’ seria um chato resistente e insistente", explica Valter Kehdi, professor de Língua Portuguesa e Filologia da Universidade de São Paulo. De acordo com Kehdi, há ainda a expressão "chato de botas", calçados também resistentes, o que reafirma a idéia do chato "reforçado".

Do arco-da-velha
Coisas do arco-da-velha são coisas inacreditáveis, absurdas. Arco-da-velha é como é chamado o arco-íris em Portugal, e existem muitas lendas sobre suas propriedades mágicas. Uma delas é beber a água de um lugar e devolvê-la em outro - tanto que há quem defenda que "arco-da-velha" venha de arco da bere ("de beber", em italiano).

Presente de grego
A expressão, que significa dádiva ou oferta que traz prejuízo ou aborrecimento a quem a recebe, surgiu em decorrência da Guerra de Tróia. A lendária história é narrada no livro Ilíada, do poeta Homero, que cobre o final de uma disputa de 10 anos (1250 a.C. - 1240 a.C.) entre a Grécia e Tróia cujo principal estopim foi o rapto de Helena, mulher do rei de Esparta Menelau, por Páris, filho do rei troiano Príamo. Para resgatar sua esposa, o monarca pede ajuda a seu irmão Agamenon, rei de Micenas. Ele envia um enorme exército à Ásia Menor, onde montam um cerco ao redor das muralhas da cidade inimiga. O conflito só termina graças a um plano de Ulisses, rei da ilha de Ítaca. Ele ordena que as tropas finjam deixar o local da batalha e deixem à porta dos muros fortificados um imenso cavalo de madeira. Os troianos acreditam se tratar de um presente e, felizes, o colocam para dentro. À noite, os soldados gregos que estavam escondidos no cavalo saem e abrem as portas da fortaleza para a invasão. Tróia é arrasada; seus líderes, mortos; e Helena, levada de volta a seu país.

Vara judicial
A expressão surgiu por causa de uma prática comum na Roma antiga. Na época, os juízes usavam varas para sinalizar que eram homens poderosos e para distinguir os letrados dos leigos. Os primeiros usavam varas brancas e os segundos, vermelha. Esse costume foi trazido para o Brasil pelos colonizadores portugueses. Quando alguém se recusava a atender uma convocação judicial, os juízes ameaçavam os "rebeldes" com seus bastões. Foi por causa disso que apareceu também as expressões "conduzido debaixo de vara" e "corrido à vara", ambas com o significado de "perseguido pela justiça". Vara judicial, por sua vez, ficou consagrada como "área judicial onde o juiz de primeira instância exerce seu poder".

Grilagem
A expressão é usada para indicar o ato de fazer títulos falsos de terra. Ela faz referência ao truque usado para "envelhecer" documentos de propriedade novos. Os papéis eram colocados em uma caixa cheia de grilos. Depois de semanas, saíam cheio de manchas amareladas, corroídos nas bordas e com pequenos buracos graças a ação dos animais.

Homem não chora
Na verdade, a expressão veio de uma regra de sobrevivência dos homens esquimós. É deles a responsabilidade de enfrentar o frio rigoroso. Para encarar as baixas temperaturas, eles tomam alguns cuidados como evitar correr. O suor poderia congelar e, conseqüentemente, lhes causar hipotermia. O mesmo princípio se aplica ao choro. As lágrimas congeladas poderiam obstruir os canais dos olhos e prejudicar permanentemente a visão. Por isso, os esquimós ensinam a seus filhos: "homem não chora".
Capítulo dos insultos e afins
Almofadinha
A expressão consta no dicionário como "homem que se veste com apuro exagerado", "abonecado" e "empetecado", e apareceu em 1919. Os rapazes mais sofisticados de Petrópolis, no Rio de Janeiro, fizeram um concurso beneficente de pintura e bordado de almofadas entre eles mesmos e acabaram conhecidos como "almofadinhas".

Cretino
Em sua obra, Adriano da Gama Cury, um dos maiores gramáticos do Brasil, explica que "cretino" vem de crétin, palavra de um dialeto franco-provençal da região dos Alpes Suíços que quer dizer "cristão". Mas não se trata de nenhuma heresia. Durante a Idade Média, a dieta dos habitantes do local era muito fraca em iodo, o que levou ao aumento dos casos de retardo físico e mental, e também do bócio ? conhecido popularmente como "papada". Ao verem seus vizinhos nessa situação, as pessoas ficavam cheias de pena e diziam "pobre cristãos", ou crétin. Infelizmente, em vez de confortar os coitados, a palavra adquiriu a conotação contrária e começou a ser usada de maneira pejorativa.

Gaveteiro
Em Minas Gerais, a expressão tinha cunho pejorativo. Ela se referia a pessoas avarentas, que tinham o hábito de esconder a comida em gavetas quando chegava uma visita inesperada na hora das refeições.

Mictório
Foi a princesa Isabel quem encomendou a palavra aos mestres lingüistas da Corte Imperial. Segundo o Dicionário Houaiss, a nobre precisava inaugurar um novo mijadouro público, mas achava esse nome muito vulgar. Assim, os estudiosos elaboraram uma nova palavra, juntando o termo mictum ? proveniente do latino mingère (mijar) ?, ao sufixo "ório", a exemplo de "lavatório". 

Veneno
A raiz indo-européia wen significa desejo. É dela que vem a expressão latina venus, que quer dizer desejo sexual e batiza a deusa grega dos amores e da beleza. Venenum, em português veneno, deriva de venus. Literalmente, significa ?elixir de Vênus?. A palavra batizava um afrodisíaco que usado em excesso tinha efeitos fatais.